Na obra “Tormentos da Obsessão” (Livraria Espírita Alvorada Editora, Bahia, 3ª Edição, 2003), psicografada por Divaldo Franco, o espírito de Manoel P. de Miranda relata várias passagens no Sanatório da Esperança, erigido no plano espiritual para socorrer espíritos desencarnados desequilibrados, e destacamos o seguinte trecho de uma aula do Dr. Ignácio Ferreira, psiquiatra que viveu em Uberlândia, dedicado à Lei do Auxílio, espírito que colabora na instrução naquela instituição:
A grandeza da vida se expressa através de inumeráveis maneiras, porquanto, envolvido pelo corpo físico ou sem ele, estua rico de vida o ser espiritual. Enquanto mergulhado no denso véu da carne, entorpece-lhe parte do discernimento e a visão global se lhe torna limitada. No entanto, ao despir-se do envoltório material, é recuperada a plenitude das funções, podendo avaliar o resultado das experiências vividas, das construções edificadas e dos planos anteriormente traçados, se foram executados conforme sua elaboração ou se houve malogro entre a intenção e a ação. Sempre, porém, luz a divina misericórdia amparando, inspirando, conduzindo, ensejando o crescimento infinito do Espírito. No entanto, face à rebeldia que se demora na conduta de expressiva maioria, eis que se adia a felicidade, equivocando-se, para vender o mal que nele permanece, avançando sempre e sem cessar. Mesmo nas aparentes existências malsucedidas, adquire valores que irão contribuir para a sua plena realização, porquanto nada permanece inútil neste processo ascensional. A aprendizagem, por isso mesmo, é conseguida através do erro e do acerto, da percepção do fato e como realizá-lo, bem como da iluminação, que são verdadeiras metodologias para aprimorar cada aluno na Escola da Vida.
É mediante esse agir e arrepender-se, quando equivocado, que surgem as vinculações dolorosas, exigindo reparações igualmente aflitivas. Isso, porque, raramente o erro é individual. Quase sempre acontece envolvendo outras pessoas com as quais se convive ou junto a quem se estabelecem programas de afetividade, de interesses comuns, de lutas necessárias. E toda vez que alguém defrauda a confiança, ou burla o respeito e a dignidade de outrem, estabelecem-se vínculos perturbadores entre o agente e a sua vítima que, destituída de elevação moral, ao invés de esquecer e perdoar, atormenta-se nos cipoais da vingança, desejando cobrar os males de que se crê objeto. Não estando preparados para entender que o mecanismo do progresso exige disciplina e testemunho, os temperamentos arbitrários rebelam-se se propõem fazer justiça com as próprias mãos, em atentado grave contra a ordem estabelecida e a própria Vida. Ninguém, porém, pode ser juiz honesto em causa própria, por impossibilidade de harmonizar ou de eliminar emoções que ditam comportamentos quase sempre egoísticos e perturbadores. Assim, as malhas da rede obsessiva se vão estabelecendo, vinculando-se negativamente uns indivíduos aos outros, aqueles que se agridem e se desconsideram.
Por conseqüência, a obsessão é pandemia que permanece quase ignorada embora a sua virulência, para a qual, na sua terrível irrupção, ainda não cogitaram os homens de providenciar preventivas ou terapias curadoras. Tão antiga e remota quando a própria existência terrestre – por decorrência das afinidades perturbadoras entre os homens – todos os Guias religiosos se lhe referiram com variedade de designações, sempre utilizando-se dos mesmos métodos para a sua erradicação, tais: o amor, a piedade, a paciência e a caridade para com os envolvidos na terrível trama. Passados os períodos em que viveram, e os seus discípulos, quase de imediato, olvidaram-se de levar adiante esta pratica, essas específicas lições que receberam. Face à tendência para o envolvimento emocional com o mitológico, não poucas vezes têm confundido a revelação do fenômeno mediúnico com idéias de arquétipos que semi-adormecidos no inconsciente, e que passam a ocupar as paisagens mentais, sem os correspondentes critérios de compreensão, para investir esforços na sua equação, desse modo transferindo-os para a galeria do fantástico e do sobrenatural.(...)
Graças à valiosa contribuição científica do Espiritismo no laboratório da mediunidade, constatando a sobrevivência do ser e o seu intercâmbio com as criaturas terrestres, a obsessão saiu do panteão mítico para fazer parte do dia-a-dia de todos aqueles que pensam. Enfermidade de origem moral, exige terapêutica específica radicada na transformação espiritual para melhor, de todos aqueles que lhe experimentam a incidência. Ocorre, no entanto, como é fácil de prever-se, que essa psicopatologia, qual sucede com outras tantas, sempre apresenta, no paciente que a sofre, graves oposições para o seu tratamento. Quando, ainda lúcido, o mesmo se recusa receber a conveniente orientação, e, à medida que se lhe faz mais tenaz, as resistências interiores se expressam mais vigorosas. De um lado, em razão da vaidade pessoal, para não parecer portador de loucura, particularmente porque assim se sente, e, por outro motivo, quando sob os camartelos das obsessões, porque o agente do distúrbio cria dificuldades no enfermo, transmitindo-lhe reações violentas, para ser evitado o tratamento especial. Em todos os casos, porém, o tempo exerce o papel elevado de convencer a vítima da parasitose espiritual, através do padecimento ultriz, quanto à necessidade de submeter-se aos cuidados libertadores.
Iniciando-se de forma sutil e perversa, a obsessão, salvados os casos de agressão violenta, instala-se nos painéis mentais através dos delicados tecidos energéticos do perispírito até alcançar as estruturas neurais, perturbando as sinapses e a harmonia do conjunto encefálico. Ato contínuo, o quimismo neuronial se desarmoniza, face à produção desequilibrada de enzimas que irão sobrecarregar o sistema nervoso central, dando lugar aos distúrbios da razão e do sentimento. Noutras vezes, a incidência da energia mental do obsessor sobre o paciente invigilante irá alcançar, mediante o sistema nervoso central, alguns órgãos físicos que sofrerão desajustes e perturbações, registrando distonias correspondentes e comportamentos alterados. Quando se trata de Espíritos inexperientes, perseguidores desestruturados, a ação magnética se dá automaticamente, em razão da afinidade existente entre o encarnado e o desencarnado, gerando descompensações mentais e emocionais. Todavia, à medida que o Espírito se adestra no comando da mente de sua vítima, percebe que existem métodos muito mais eficazes para uma ação profunda, passando, então, a executá-la cuidadosamente. Ainda, nesse caso, aprende com outros cômpares mais perversos e treinados no mecanismo obsessivo, as melhores técnicas de aflição, agindo conscientemente nas áreas perispirituais do desafeto, nas quais implanta delicadas células acionadas por controle remoto, que passam a funcionar como focos destruidores da arquitetura psíquica, irradiando e ampliando o campo vibratório nefasto, que atingirá outras regiões do encéfalo, prolongando-se pela rede linfática a todo o organismo, que passa a sofrer danos nas áreas afetadas.
Estabelecidas as fixações mentais, o hóspede desencarnado lentamente assume o comando das funções psíquicas do seu hospedeiro, passando a manifestá-lo a bel-prazer. Isso, porém, ocorre, em razão da aceitação parasitária que experimenta o enfermo, que poderia mudar de comportamento para melhor, dessa forma conseguindo anular ou destruir as induções negativas de que se torna vítima. No entanto, afeiçoado à acomodação mental, aos hábitos irregulares, compraz-se no desequilíbrio, perdendo o comando e a direção de si mesmo. Enquanto se vai estabelecendo o contato entre o assaltante desencarnado e o assaltado, não faltam a este último inspiração para o bem, indução para a mudança de conduta moral, inspiração para a felicidade.Vitimado, em si mesmo, pela autocompaixão ou pela rebeldia sistemática, desconsidera as orientações enobrecedoras que lhe são direcionadas, acolhendo as insinuações doentias e perversas que consegue captar.
(...) Como a inspiração espiritual se faz em todos os fenômenos da Natureza, inclusive nas atividades humanas, é compreensível que, além das tormentosas obsessões muito bem catalogadas por Allan Kardec – simples, por fascinação e subjugação – os objetivos mantidos pelos perseguidores sejam muito variados. Eis porque as suas maldades abarcam alguns dos crimes hediondos, tais como: autocídios, homicídios, guerras e outras calamidades, face à intervenção que realizam no comportamento de todos aqueles que se afinizam com os seus planos nefastos. Agindo mediante hábeis programações adrede elaboradas, vão conquistando as resistências do seu dependente mental, de forma que, quase sempre, porque não haja uma reação clara e definitiva por parte de sua vítima, alcançam os objetivos morbosos a que se entregam enlouquecidos.
Quando das suas graves intervenções no psiquismo dos seus hospedeiros, suas energias deletérias provocam taxas mais elevadas de serotonina e noradrenalina, produzidas pelos neurônios, que contribuem para o surgimento do transtorno psicótico-maníaco-depressivo, responsável pela diminuição do humor e desvitalização do paciente, que fica ainda mais à mercê do agressor. É nesta fase que se dá a indução ao suicídio, através de hipnose contínua, transformando-se em verdadeiro assassínio, sem que o enfermo se dê conta da situação perigosa em que se encontra. Sentindo-se vazio de objetivos existenciais, a morte se lhe apresenta como solução para o mal-estar que experimenta, não percebendo a captação cruel da idéia autocida que se lhe fixa na mente. Não poucas vezes, quando incorre no crime infame da destruição do próprio corpo, foi vitimado pela força da poderosa mentalização do adversário desencarnado. Certamente, há, para o desditoso, atenuantes, em razão do processo malsão em que se deixou encarcerar, não obstante as divinas inspirações que não cessam de ser direcionadas para as criaturas e as advertências que chegam de todo lado, para o respeito pela vida e sua conseqüente dignificação.
O mesmo fenômeno ocorre quando se trata de determinados homicídios, que são planejados no mundo espiritual, nos quais os algozes se utilizam os enfermos por obsessão, armando-lhes as mãos para a consumação dos nefastos crimes. Realizam o trabalho a longo prazo, interferindo na conduta mental e moral do obsesso, a ponto de interromperem-lhe os fluxos do raciocínio e da lógica, aturdindo-os e dominando-os. Tão perversos se apresentam alguns desses perseguidores infelizes quão desnaturados, que se utilizam da incapacidade de reação dos pacientes para os incorporar, podendo saciar sua sede de vingança contra aqueles que lhes estão ao alcance. Utilizando-se do recurso da invisibilidade material, covardemente descarregam a adaga do ódio nas vítimas inermes, tombando, mais tarde, na própria armadilha, porquanto não fugirão da justiça divina instalada na própria consciência e vibrando nas Leis cósmicas, que sempre alcançam a todos.
De maneira idêntica, desencadeiam guerras entre grupos, povos e nações, cujos dirigentes se encontram em sintonia com as suas terríveis programações, formando verdadeiras legiões que se engalfinham em lutas encarniçadas visando alcançar os objetivos infelizes a que se propõem. Passam desconhecidas estas causas, que os sociólogos, os políticos, os religiosos não conseguem detectar, mas que estão vivas e atuantes nas paisagens terrestres, e a reencarnação se encarregará de corrigir sob a sublime direção de Jesus. (...)
Na raiz de inumeráveis males que afetam a coletividade humana, encontramos o intercâmbio espiritual manifestando-se com segurança. As obsessões campeiam desordenadamente. Isto não implica em dar margem ao pensamento de que as criaturas terrestres se encontram à mercê das forças desagregadoras da erraticidade inferior. Em toda parte está presente a misericórdia de Deus convidando ao bem, ao amor, à alegria de viver. A opção inditosa, no entanto, de grande número de criaturas é diversa dessa oferta, o que facilita a assimilação das idéias tenebrosas que lhe são dirigidas. Assim mesmo, ante a preferência das terríveis alucinações, o amor paira soberano aguardando, e quando não é captado, a dor traz de volta o calceta, encaminhando-o para o reto proceder mediante o oportuno despertar.
Todos esses criminosos espirituais, terminadas as batalhas em que se empenham, passam a experimentar incomum frustração por haverem perdido as metas que desapareceram e por darem-se conta dos tormentos íntimos em que naufragam, descobrindo-se sem objetivo nem razão de continuar a viver... E como não podem fugir da vida em que se encontram, são atraídos compulsoriamente às reencarnações dolorosas, experimentando os efeitos das hecatombes que ajudaram a ter lugar. Mergulham, então, na grande noite terrestre do abandono, da loucura, das anomalias, emparedados em enfermidades reparadoras, experimentando rudes expiações, que lhe serão a abençoada oportunidade para reencontrar o caminho do futuro.
O Mestre Jesus foi enfático ao anunciar: - Vinde a mim todos vós que estais cansados e eu vos aliviarei, completando com segurança: - Em verdade vos digo que ninguém sairá dali (do abismo) enquanto não pagar até o último ceitil. Ele alivia todos aqueles que O buscam sob o pesado fardo das aflições, entretanto, é necessário que a dívida moral contraída contra a Vida seja resgatada até o último centavo, quando então, o devedor se sentirá equilibrado para conviver com aquele que lhe padeceu a impiedade, sendo perdoado e reconciliando-se com a própria consciência e o seu próximo. Somente, portanto, através do perdão e da reconciliação, da reparação e da edificação do bem incessante, é que o flagelo das obsessões desaparecerá da Terra de hoje e de amanhã, pelo que todos nos devemos empenhar desde este momento. (...)
O amor é o bem eterno que sobrepaira em todas as situações, mesmo nas mais calamitosas, apontando rumos e abrindo espaços para a realização da felicidade total. Vivê-lo em clima de abundância, é o dever a que nos devemos propor, inundando-nos com a sua sublime energia que dimana de Deus.
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