Uma ninfa apesar de muitos anos na corrente não se sentia realizada. Dia após dia esperava que um grande fenômeno lhe acontecesse; mas nada mais acontecia do que rotineira participação nos trabalhos; a mesma doutrina, os mesmos acontecimentos.
Achava injusto, uma vez que se achava melhor do que muitos doutrinadores, que se destacavam nos comandos. Observando as demais ninfas, sol e lua, percebia que era, de longe, a mais dedicada e sempre que podia dava um jeitinho de conversar com suas irmãs apontando suas “faltas”; e, lógico, se colocando como exemplo de conduta doutrinária a ser seguido.
Muitas vezes o adjunto precisou de ninfas para a limpeza e conservação do templo, mas a ninfa nunca se dispunha a ajudar- pensava que limpar o templo não era função para uma ninfa de sua estirpe.
Também não se dispunha a ajudar na cozinha, nem no pequeno pajé; tinha certeza que uma grande missão a esperava, por isto, ajudava financeiramente o templo, com boas quantias em dinheiro que fazia questão de anunciar a todos, para que todos soubessem de sua generosidade; também doava, frequentemente, finos objetos que, por seu valor financeiro, destoava do ambiente singelo do amanhecer.
Certo dia de trabalho oficial, ao final do atendimento dos pacientes, o preto velho disse à ninfa que tinha um pedido a fazer-lhe.
O preto velho, humildemente, disse à ninfa que pai seta branca a tinha escolhido para uma missão especial naquele templo. Era uma missão de grande responsabilidade que, se bem cumprida, ajudaria muito ao templo, bem como a si mesma.
Cheia de orgulho, a ninfa quase não se aguentava para saber que grande missão seria; e foi, com certa decepção, que ouviu do preto velho que a mesma deveria assumir a cantina. A modesta cantina, além de oferecer lanches e cafés que alimentavam os mestres nas longas horas de trabalho incansável, era responsável pela maior parte da receita, cujos valores eram empregados nas despesas.
Entretanto, a ninfa aceitou trabalhar na cantina, embora achasse que qualquer outra poderia ali ficar.
Não demorou muito e os problemas começaram: ela começou a achar que ficava com mau cheiro por causa da fritura; perdia a paciência com quem reclamava se o salgado estivesse frio, se o café estivesse fraco, se o lanche estivesse caro.
Chegava a humilhar aqueles que pediam troco e começou a achar que tudo aquilo a rebaixava espiritualmente e mesmo materialmente, pois lavar as vasilhas estragava suas unhas tão bem cuidadas, o vapor das frituras e cozimentos estragavam seus cabelos tão bem tratados no salão de beleza... O certo é que, em menos de três meses, largou a cantina e voltou à rotina de sempre.
O tempo passou e esta ninfa desencarnou.
Ao chegar em pedra branca, entre seus mentores, viu o preto velho que há alguns poucos anos atrás pediu-lhe para assumir os trabalhos na cantina.
Envergonhada, a ninfa dirigiu-se ao preto velho apresentando suas justificativas.
_ salve deus, meu pai.
_ salve deus, minha filha! Estou aqui, muito feliz com o seu retorno e para ter a satisfação de saber se você cumpriu, direitinho, a missão que lhe foi confiada!
_ ih, pai! Se o senhor está se referindo à cantina do templo, eu não fiquei lá por muito tempo, não! Sabe, eu tenho um gênio muito forte e os jaguares são gente sem educação, reclamam muito de tudo, querem exigir... Muitos reclamavam que não tenho educação, tive muitos aborrecimentos e alguns bate-boca. Vivia cheirando à gordura; minhas unhas feias e sujas... Mas, como missionária, graças a deus, cumpri direitinho! Sempre doei grandes quantias de dinheiro, corrigi minhas irmãs em suas missões, procurei, sempre fazer meu canto e emissão em perfeita sintonia, prezei por excelente comportamento no templo, aliás, muito mais do que qualquer outra ninfa, sempre me apresentei com minhas roupas e aparência impecáveis...
-Mas, filha, quem disse que sua missão era o trabalho na cantina?
-Ora, o senhor, Pai Joaquim das Pedreiras... O senhor me disse naquele dia no trono...
-Eu sei, filha; o trabalho na cantina foi apenas uma desculpa para facilitar as coisas para você. Na verdade, sua missão era aprender o valor da humildade, da tolerãncia e do amor; aprender a servir, aceitar e compreender as atitudes daqueles que nos dificultam a caminhada. Salve deus!
Pai Benedito de Aruanda.
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