Em minha casa, chorava sem esperanças. Após três dias, fui trabalhar. Peguei o caminhão e fui descendo a Primeira Avenida, na Cidade Livre. Súbito, senti que havia atropelado alguém. Freei bruscamente, apavorada. Um guarda, que estava ali perto, se aproximou para ver o que havia. Falei. Ele me olhou, olhou em volta do caminhão, e viu a rua sem qualquer sinal de acidente. Contei-lhe, então, o que estava acontecendo comigo, e ele falou:
- Procura um terreiro, morena!
Saí dali em conflito, um profundo conflito, e desci até o bar do japonês, onde resolvi parar. Ia lavar o caminhão e não trabalharia mais. Fiquei na porta do bar, que ficava no posto, em frente ao estacionamento da única empresa de ônibus. Algumas pessoas esperavam a condução para partir para diversos lugares.
Foi quando vi, na cabeça de um jovem, de mais ou menos 25 anos, como que uma imagem de televisão, que projetava uma mulher de vestido branco, de bolas vermelhas, que se movimentava, portando uma sombrinha azul escuro. Na imagem, vi os dois se beijando, enquanto, em baixo da imagem, o jovem não se movimentava. Alguns segundos depois, vi aquela mesma mulher na vida real, virando uma esquina. Ela chegou, fechou a sombrinha, e os dois se beijaram, repetindo, detalhe por detalhe, o que eu vira na projeção. Uma voz falou em meu ouvido:
- Você tem o poder de prever o presente e o futuro!
De repente, enquanto os dois estavam se beijando, vi nova projeção: o ônibus chegando e eles embarcando, para, pouco depois, o ônibus tombar. Vi seis mortos, entre os quais estava a mulher com o vestido de bolas. Senti que estava claro que iriam morrer naquela curva ali perto.
- Não deixarei! – pensei.
Na disposição de salvá-los, corri e segurei o braço do jovem, puxando-o para o bar. A mulher veio para cima de mim, me descompondo, enquanto eu me limitava a dizer:
- Quero, apenas, salvar vocês!...
Mas era pior. Quanto mais eu tentava explicar, pior ia ficando. Enquanto isso, o ônibus chegou e partiu. Nem vi, pois me defendia dos ataques da mulher. O japonês e sua esposa vieram em meu socorro, e então pude contar o que vira. Seria apenas esperar um pouco. A curva era perto dali. Apesar das minhas explicações, a mulher continuava me descompondo, louca de ciúmes de mim, e eu imersa num pensamento:
- Será verdade? Como terminará tudo isso? Meu Deus!...
Logo, ouvimos um barulho: o ônibus tombara na curva! Gritos, correria, e a notícia de que havia quatro mortos. Convencidos, o casal de desmanchou em agradecimentos. Eu não sabia o que me ia na alma. Somente percebia uma coisa:
- Conheço o presente, o passado, e posso evitar o futuro, se Deus assim o permitir!...
Sai dali nem sei como. Caminhava só, e pensava:
- Adeus, minha mocidade! Porém, seja o que Deus quiser!...
Tia Neiva
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Salve Deus! Comente com amor, humildade e tolerância... para enriquecer ainda mais o nosso blog.